A estética do público no Afropunk Experience RJ: quando vestir também é manifesto
- Nassor Oliveira Ramos

- 16 de out.
- 3 min de leitura

Em meio ao dia de primavera de calor ameno no Rio, corpos negros se tornam vitrines de si mesmos, celebrando a multiplicidade estética que nasce da ancestralidade e se reinventa na contemporaneidade.

Os looks do público são marcados por afrofuturismo, referências de rua e signos tradicionais. Há quem traga a força dos tecidos africanos reinterpretados em modelagens urbanas, quem use peças de brechó transformadas em símbolos de autenticidade e quem explore o brilho como linguagem de poder. As tranças, os turbantes, os cabelos blacks e os acessórios maximalistas reforçam a estética da realeza negra, um luxo que vem do corpo e não da etiqueta.

A moda no festival vai além do espetáculo, criando um território político de auto expressão. O público do Afropunk desafia padrões eurocêntricos de beleza e estilo ao propor uma estética que valoriza a pluralidade das peles, dos cabelos e das narrativas. É um desfile sem passarela, onde o protagonismo é coletivo e cada pessoa é autora da própria imagem. A estética não só do público, como também dos artistas traduz o que há de mais potente na moda atual: a liberdade de ser e o orgulho de se mostrar inteiro.


Tasha e Tracie levaram ao Afropunk uma estética que mistura sensualidade e moda de rua. Com referências Y2K e styling afiado, as artistas equilibram tecidos acetinados e shapes justos com acessórios robustos e atitude urbana. As cores vibrantes e os contrastes reforçam o discurso de autonomia e identidade periférica como luxo real.

O Kannalha apostou em um visual que une streetwear e sofisticação, com conjunto acetinado em tom neutro, jaqueta oversized com grafismos e bermuda ampla traduzindo a estética urbana baiana com toque de luxo casual, equilibrando conforto e presença cênica. Ao lado do tênis branco e da camiseta básica e boné na cabeça, o artista reforça a força da moda periférica como expressão de identidade negra contemporânea.

Convidada por Kannalha, MC Carol de Niterói apostou em um vestido curto branco com recortes estratégicos e detalhes de plumas, unindo sensualidade e poder cênico reforçando sua presença como ícone de autenticidade e força feminina. Com brilho sutil e acessórios marcantes completam uma estética que traduz ousadia.

AJULIACOSTA subiu ao palco com um look que sintetiza atitude e sensualidade contemporânea. O cropped gráfico e o short micro de couro, combinados a botas over the knee, criam uma estética urbana com referências do clubwear, moda nascida nos anos 90 a partir de um movimento que teve impacto gigantesco na música, e do funk. Um visual que traduz o espírito do Afropunk com corpo livre, presença marcante e moda como extensão da performance. E disso ela entende bem. A rapper é dona da marca de roupas AJuliacosta Shop que valoriza a cultura periférica na moda ao criar peças com referências do Hip Hop.

Marielli Patrocínio é jornalista com formação em Comunicação Social, especializada em Jornalismo de Moda, Comportamento e Cultura. Consultora de estilo disruptiva, modelo e comunicadora territorial, fala sobre tendências de comportamento, moda e autoestima da mulher negra, moda consciente, cultura popular e sociedade. Criadora de conteúdo do “Acredita Bunita” desde 2020 e podcaster do “Já tô com a roupa de ir”. Integra a Diretoria de Igualdade Étnico-Racial da Associação Brasileira de Imprensa e a equipe de comunicação do Rena Cultural, do tradicional Clube Renascença, reforçando seu compromisso com equidade e transformação social.




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