Os Garotin chegando no Vivo Rio com casa cheia, público animado, banda afiada.
- Nassor Oliveira Ramos

- 6 de dez
- 4 min de leitura
A música não está perdida e o público ainda reconhece o que é bom.

No último sábado, dia 29 de novembro, o trio “Os Garotin” mostrou a que veio, com um show carregado de muita musicalidade — a mesma que se reflete no comportamento solo dos membros do grupo, caminhando pela Música Popular
Brasileira de Gilberto Gil e Caetano Veloso, pelo soul voraz de James Brown, por um timbre de voz singular como o de Anderson .Paak e pelo indiscutível poder melódico e sensual do puro suco do R&B norte-americano.
O substantivo no diminutivo não reduz a potência do grupo; é apenas uma forma de simbolizar a capacidade cultural e a amplitude de influência do subúrbio fluminense. E é exatamente isso que Cupertino, Léo Guima e Anchietx fazem
brilhantemente: levam à frente uma cultura vista como marginal (mesmo não sendo).
Justamente a ideia de que “sim, é possível construir um novo imaginário” para jovens que almejam alcançar novos ares. Oriundos do município de São Gonçalo, zona sudeste do estado do Rio de Janeiro — um Rio que não é retratado pela
massa ou pela mídia popular, um RJ que não é reconhecido pelos gringos que enchem as ruas da zona sul carioca — tudo isso do outro lado da ponte.
Há aproximadamente 6 anos, exatamente no dia 5 de abril de 2019 Anchietx lançava seu single de estreia “Sinta”.
Consequentemente, escuto pela primeira vez uma das vozes mais bonitas do então rap nacional — digo isso porque, naquele momento, era assim que cantores como ele eram classificados. Todos dentro de um único gênero, o rap,
concepção que em sua totalidade não faz sentido, mas eu consigo entender.
A voz em questão é a do atual “Garotin” e artista responsável por cantar o hit “Zero a Cem”, música que hoje acumula mais de 13 milhões de visualizações no YouTube: Anchietx. Ficoextremamente impactado pela capacidade vocal e naturalidade de um canto 100% black, sem qualquer inibição para expressar isso.

Permaneço acompanhando a carreira em construção de Anchietx. Até que, em 2023, sou atravessado por um vídeo novamente no YouTube — desta vez, Anchietx estava acompanhado de mais dois garotos que até então eu não conhecia, mas não demoraria muito para que eu me tornasse fã. E foi exatamente isso que aconteceu. Tornei-me fã oficialmente dos Garotin de São Gonçalo, e é a partir do vídeo de “Pouco a Pouco” que começo a saga de conhecer mais sobre esses artistas.
Entre pesquisas e entrevistas, me aprofundo nessas três personas distintas, mas complementares pela música. Quando o assunto é Cupertino, Léo Guima e Anchietx, a música não fica em segundo plano.
Em um mundo em que artistas são relevantes pelas suas vidas “pessoais”, ter artistas que são genuinamente musicais é algo que merece atenção — e tem toda a minha atenção.
Atenção essa conquistada, por uma sequência de lançamentos que utilizam como estratégia algo que vem se destacando entre artistas revelações da atualidade: a live performance.
Exemplo disso é Doechii, rapper norte-americana que foi (e vem sendo) destaque em 2025, muito pela habilidade de realizar performances memoráveis.

E quando o assunto é performance, “Os Garotin” sabem exatamente o que fazer e como fazer. Depois de uma estreia bem-sucedida no Circo Voador, em comemoração ao primeiro álbum do grupo, no dia 29 de novembro de 2025 o trio
embarca em mais uma empreitada — dessa vez na zona sul do Rio de Janeiro, em uma das casas mais ilustres da cidade: o Vivo Rio.
Local que já recebeu grandes nomes da música brasileira, como Beth Carvalho e Caetano Veloso, e internacionais como Nile Rodgers e Chic.

Com a abertura da noite por DJ Michel, residente do Baile Charme do Viaduto de Madureira, já era possível sentir o ritmo que viria dali em diante. Um DJ set repleto de músicas que marcaram gerações, transformando o Aterro do Flamengo em um grande baile charme. Mas ainda assim sobrava espaço para as estrelas da noite: o trio mais quente e swingado da nova geração da música brasileira. Eles: os Garotin de São Gonçalo.
Apresentando um show com cara de baile — definitivamente um baile black — era possível ver os membros do grupo cada vez mais confiantes de si e de palco.
Vale destacar a capacidade que ambos têm de complementar a musicalidade um do outro. Cupertino é um músico fortemente influenciado pelos grandes da MPB; Anchietx representa os frutos gerados pelo R&B norte-americano no Brasil; e Léo Guima é a união de todas essas influências, o elo que conecta esses dois mundos.
Com isso, as possibilidades de fracasso são reduzidas de forma exponencial, e o sucesso se torna inevitável — assim como o reconhecimento do público.
A palavra que poderia definir o que foi estar no Vivo Rio nanoite de 29 de novembro de 2025 é felicidade.
Felicidade em reconhecer o talento do outro.
Felicidade em ver música oriunda dos guetos em um lugar de relevância cultural.
Felicidade em saber que o novo sempre vem.
E, dessa vez, veio em dose tripla.

Alex Hoyte é formando em Publicidade Propaganda e observa o mercado da música como quem busca decifrar códigos culturais. Na intersecção entre cultura, estética e música, cria análises que traduzem o contemporâneo.





Comentários